CADARÇO DESATADO

Vitor vai contando folhas na calçada

Marrons aquelas que viveram tanto

As verdes que sofreram arrancadas

Seria a culpa de algum pássaro,

Que voando disparada arrebentara?

Ou seria culpa da lagarta

Que lenta se alimentara?

Vitor vai contando passos na estrada

Balançando como no ritmo da toada

Seu tênis velho segue desamarrado

A cada passo uma ponta, todo lado

Será que sua mãe uma vez o ensinara,

amarrar e andar sempre atado?

Ou aprendeu sozinho andar solto

Dançando o ritmo desenfreado?

Vitor vai andando e assoviando

Lembrando de tal música embalada

A cada sopro uma afinação entoada

Amenizando a distância da morada

Vitor, quando chega à sua casa

Debaixo daquela ponte interditada

Onde termina a estrada inacabada

Enrola-se com papelão pela escada

Lembra-se da verde folha arrancada

Lembra-se do cadarço desatado

Lembra-se de desafinada embalada

E esquece a longa estrada.

Zanarde
Enviado por Zanarde em 20/08/2010
Reeditado em 04/10/2012
Código do texto: T2448995
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