CADARÇO DESATADO
Vitor vai contando folhas na calçada
Marrons aquelas que viveram tanto
As verdes que sofreram arrancadas
Seria a culpa de algum pássaro,
Que voando disparada arrebentara?
Ou seria culpa da lagarta
Que lenta se alimentara?
Vitor vai contando passos na estrada
Balançando como no ritmo da toada
Seu tênis velho segue desamarrado
A cada passo uma ponta, todo lado
Será que sua mãe uma vez o ensinara,
amarrar e andar sempre atado?
Ou aprendeu sozinho andar solto
Dançando o ritmo desenfreado?
Vitor vai andando e assoviando
Lembrando de tal música embalada
A cada sopro uma afinação entoada
Amenizando a distância da morada
Vitor, quando chega à sua casa
Debaixo daquela ponte interditada
Onde termina a estrada inacabada
Enrola-se com papelão pela escada
Lembra-se da verde folha arrancada
Lembra-se do cadarço desatado
Lembra-se de desafinada embalada
E esquece a longa estrada.