CRIANÇA DE RUA

Caminho pelas ruas causticantes,

com os cabelos desalinhados ,

dentes amarelados e verde de fome.

Meu estômago chora.

Meus olhos sequer detêm lágrimas,

porque já secaram a procura de alguém.

Alguém que justificasse esse mundo,

para que eu entendesse tamanho sofrimento.

Não sou fraca, nem destemida,

nem joia rara, nem lixo urbano.

Nasci de uma barriga desalmada,

e nunca fui amada...

Meus pés estão roxos de frio,

meu corpo pequeno e ainda fraco,

treme, treme e geme de dor.

Não sei se é dor física,

ou falta de calor.

Só sei que vou partir,

sem saber de onde vim.

Não tenho de quem me despedir,

nem quem se importe comigo.

Encolhida na parede desse mundo tão grande,

minhas forças se perdem.

Quanta vontade eu tive de viver,

e quanto sonhei em te conhecer.

As ruas são ingratas.

O frio e a fome,

são mãos que apertam sem abraçar.

Nunca senti calor humano,

e ainda me chamam de desumana.

Nem sei o que te falar.

Sou uma criança excluída,

sem ter um lar para morar.

Tenho um sentimento profundo,

porque esse mundo também é o meu mundo,

mas para mim não sobrou lugar,

nem para viver e

nem para aprender a amar.