O SAPO
O sapo é um ser sem pedigree.
Adormece à beira dum chinelo emborcado na lama
Ou atrás de uma avenca encostada num raio de luar.
Seu olho amarelo engorda moscas luzidias
Que gotejam da torneira do tempo.
No horizonte do sapo uma flor estruma de virar ostra
E parir pérolas celestes.
Nem transido de outono o sapo gorjeia
Sua saudade fóssil.
Ao rés-do-chão
O sapo justifica seu existir soturno
E devora solidão...