INFÂNCIA MALSINADA*
Infantes, mas já no crime;
crianças e malsinadas,
em porões, como reclusas;
ou, quando livres, intrusas,
mortas ou discriminadas.
Infância do meu País,
que vida a ti foi negada?
Estás morrendo tão cedo
– isto é fato, sem segredo.
Por que estás a tal fadada?
Infância do meu País,
estás nos vícios metida?
Cuida mais da tua sorte
e não mergulhes na morte.
Por que não viver a vida?
Infância do meu País,
nova ainda, assassinada
pelos becos sem destino,
vejo-te em cada menino
estendido na calçada.
Infância do meu País,
para as drogas não vieste!
Tu tens missões mais além
– teu estudar nos convém,
norte a sul, de oeste a leste.
Infância do meu País,
oh, te vejo dizimada,
nos jornais, dia após dia,
na violência que não via,
lá na década passada.
Infância do meu País,
quero dizer-te: – Doída
é sempre a dor dos teus pais,
quando veem nos canais
– frágeis crianças, sem vida.
Fort., 09/02/2010.
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(*) Comovente a cena da imprensa de hoje,
em Fortaleza: na tevê, uma criança de doze
anos abatida por balas da cobrança de dívi-
da com narcotraficantes.