UM DIA FUI CRIANÇA
Atiçei a memória e busquei as saudades,
Que vieram quietinhas e até preguiçosas,
E me joguei então numa emoção de delicias,
Gostosas, sensíveis, um néctar tão doce,
Parecendo reviver uma sensação de sorrisos.
Foram assim, despretensiosas, um despertar,
Fontes inesgotáveis de tempos tão puros,
Delicias incontidas que num êxtase entrei,
E todas as emoções foram surgindo em transe,
Como uma nuvem que se vai e o sól aparece.
Vi perfeitamente minha figura criança,
Esperta, um delírio das emoções que senti,
Tantas as delícias que pequeno encontrei,
Nas andanças por espaços tão longes,
De pés descalços sem temer os perigos.
Sonhei meus sonhos querendo ser pássaro,
Com asas fortes para alçar seus vôos,
Subindo, subindo, em imensuráveis alturas,
E lá do alto acalmar então minhas ansiedades,
Pois contemplava feliz horizontes distantes.
Correndo solto por distâncias tão longas,
Procurava as colinas para sentir só delicias,
A brisa suave que batia em meu rosto,
Ouvindo com calma pássaros cantando,
E num torpor de mente entrava em transe.
Numa ousadia que até me assustava,
Subia em árvores sem temer as alturas,
Procurando delícias em frutas silvestres,
Ou então me jogando em águas revoltas,
Do rio tão fundo sem temer consequências.
Criança sem posses mas recheada de amor,
Tantos os carinhos que recebi em abundância,
Um pai meu herói que moldou meu caráter,
Uma mãe de meiguices que contava histórinhas,
Até o sono chegar para tirar meu cansaço.
Infância que hoje poucas crianças usufruem,
Dos medos que rondam todas suas existências,
Guardadas por pais temerosos e assustados,
Não tem liberdades nem para correrem tão soltas,
E exercerem ousadias que gostariam sentir.
13-12-1009