O Menino e o Rouxinol
Contam que dois séculos atrás,
Nos arredores dos bosques de Viena,
Dentre as videiras de Shiraz,
Vivia uma criança ingênua.
Sob seu queixo um violino
Que lhe emprestara seu mestre,
Belos sons fazia soar o menino:
Sons sobre a vida campestre.
Seu pai, desde moço lavrador,
Cuidava, com zelo, de uma vinha
Que pertencia a um velho e bom senhor
O qual muitas riquezas tinha.
Dizem que, certa ocasião,
Uma linda gaiola de ouro
Trouxe o velho senhor, à mão,
E que valia um tesouro!
Como presente a ofertou,
Ao seu nobre servidor,
Que, muito agradecido, aceitou
O agrado rico e tentador.
Pôs migalhas numa cilada armada,
E, de longe, observava, o homem,
No pão dar uma infeliz bicada
Um rouxinol, traído pela fome.
Aprisionou a pequena avezinha,
Famosa por suas alegres cantigas.
Queria ruflar suas pequenas asinhas...
Voltar para as flores amigas!
Dias e dias se passaram
Sem que o rouxinol houvesse cantado.
No fundo da gaiola olhavam:
Lá estava, pobrezinho, contristado.
Num desses dias, o músico menino,
Ao lado da gaiola, tocava certa melodia:
Doces sons, muito tristes, emanavam do violino.
De seu rosto infantil uma lágrima caia.
Ouviu-se um canto, tristemente,
Acompanhar o pequeno virtuoso:
Era o passarinho que, angustiadamente,
Chorava, com trinados, mui queixoso.
E no triste assunto musical divagavam,
O menino e a pobre ave aprisionada;
E os sons, cheios de mágoa ecoavam:
Belos sons se entoavam da gaiola fechada.
Ao ouvir o trágico e triste lamento
Que da ave canora se fazia ouvir,
O homem caiu num abatimento:
Assombros horríveis pareciam o possuir.
Apressou-se em abrir da gaiola a trava
E libertar o pequeno rouxinol
Que, agora, com incomparável alegria cantava
E voava a se banhar pelo arrebol.