MINHA INFÂNCIA

Quando recordo minha infância,

Nem sempre sinto saudade

Eram dias bem difíceis...

Bem longe da realidade.

Minha família sempre sem grana, sem eira nem beira.

Porém, meus pais, sempre honestos,

Nunca cometeram besteiras.

Ainda ouço o barulho do trem

Ecoando trilho afora...

Neste instante sinto saudade

E o meu peito sente e chora.

A molecada subia no barranco, acenando ao maquinista.

Os rostos iam passando rapidamente,

Mas as imagens foram se gravando na minha mente.

Tinha uma senhora gorda, sentada do lado da janela.

Usava um batom vermelho, e uma blusa com estampa amarela.

E num gesto gracioso, acenava com a mão,

Para nós era uma alegria de encher o coração.

Que fim terá tido ela? Será vive ou será que não...

As ruas do meu bairro eram todas de terra,

O melhoramento demorou a acontecer.

Então, não tínhamos escolha:

Ou brincávamos na enxurrada quando chovia,

Ou comíamos poeira, não tínhamos o que fazer.

Só que as crianças podiam brincar na rua

Beijo na boca, aperto de mão ou passeio no escuro;

Pega-pega, passa-anel, amarelinha...

Não tínhamos tempo de pensar no futuro.

Mas de uma coisa não consigo esquecer...

Tinha uns sete anos e já sabia escrever

A professora pediu para classe uma atividade diferente:

Fazer uma oração somente para agradecer.

Lembro-me como se fosse hoje, usei toda minha emoção!

O trabalho foi escolhido, como a melhor redação.

Neste dia minha mãe, me disse toda orgulhosa:

“Você um dia vai ser escritora, minha filha”!

“Sua escrita está muito bonita”.

Eu fiquei toda prosa.

Hoje minha infância ficou lá trás.

Mas não consegui apagar da lembrança.

Os sonhos, as alegrias e os amores...

Do meu tempo de criança.

Livro: Se as estrelas falassem... Editora Komedi/2007 - Campinas SP.

SILVIA TREVISANI
Enviado por SILVIA TREVISANI em 03/05/2009
Reeditado em 03/05/2009
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