Menino Levado
Observava da janela o moinho de vento
Um menino levado nutrido de sonhos
Tentava entender os próprios pensamentos
Mas só sabia choramingar pelos cantos
Uma velha senhora resolveu lhe falar:
-Menino, pare já com isso e vá brincar!
Nada quis dizer o menino, apenas se retirou
Sem rumo e desiludido o coitado ficou
Enquanto caminhava pelos morros altos
Bem mal compreendido ele se achou
Por entender que com seus sentimentos
A indiferente senhora pouco se importou
Quando um sem-teto moribundo lhe disse:
- Menino levado, porque estais tão quieto?
Foi como se o céu nublado se abrisse
E o iluminado sorriso do menino foi certo
Resolveu sentar-se ao lado do estranho
Para com ele chorar todas as suas mágoas
Enquanto observavam o belo rebanho
Que naquele instante por ali passava
Após uma conversa de muitas lamentações
O menino, ao simpático homem agradeceu
Por emprestar-lhe os ouvidos e as orações
Que o prestativo mendigo lhe prometeu
Satisfeito voltava o menino para casa
Quando novamente viu a senhora de antes
Estava ela caída no chão, esparramada
Por ter tropeçado numa pedra errante
O menino levado foi depressa em socorro
E ajudou a reerguer a velha senhora
Que, corada, continuou a subir o morro
Sem proferir uma palavra naquela hora
Assim, humildemente o menino aprendeu
Uma de suas grandes e eternas lições
Viu que fazer uma boa ação não doeu
E que atitudes simples curam corações
Continuou ele, então, a sorrir e aprontar
Como qualquer menino levado sempre faz
Juntou-se aos amigos e ficou a brincar
E naquele dia cinzento não chorou mais
25 de Dezembro de 2008