Ó.Ò
Este poeminha-canção-de-embalar dedico ao nosso afilhado Pedrinho, que está quase, quase, ao chegar ao colinho de Sônia Ortega...
Vou contar-lhes a aventura
Que todos nós já vivemos,
Mas guardamos na clausura
Das coisas que já esquecemos:
É a historia duma semente
Qu' um dia encontrou um ninho
E que, muito docemente,
Se fez fruto de carinho.
Essa semente fui eu,
Que me fiz vida e esperança,
O imenso céu era meu,
Destino certo: criança!
Estava eu, enroscadinha,
No ventre da nave-mãe,
Viajando bem quentinha
Num universo sem além,
Quando viva tempestade
Me trouxe a um mundo novo,
E me fez chorar saudade
P'lo aconchego do meu ovo...
Solavancos foram tantos!,
Tal a tormenta e maré,
Que julguei, p'ra meu espanto,
Ter naufragado a galé!
Estranhei a confusão,
O frio, os seres estranhos,
E aquela severa mão
Que fez chorar baba e ranho...
"Mas o que é isto? - pensei,
A que praia eu vim parar?
Exijo saber da lei,
Quem me obriga a aqui ficar?"
Na luz que me ofuscou
Vi então uns olhos meigos,
E a Vida começou
A' ninhar-me em aconchego.
Era tão doce o querer
Desses olhos, desse porto,
Que comecei a aprender
Que respirar é conforto...
Aprendi também o gosto
Do toque de amor e seda
Colo de mãe, doce encosto,
Nada há que o exceda!
Soube logo, desde então,
A Mãe-terra que eu olhava,
Era verso, chuva e pão,
Que de amor me alimentava!
Não mais quero naufragar
Os caminhos que me prendem
Ao jeitinho de chorar
Que só as mães compreendem!