Tio Ângelo conta uma história
Tio Ângelo reuniu as crianças. Queria contar uma história.
Estavam lá Pequener, Zurieber, Izolino e mais alguns pequeninos
ainda novos no grupo.
Pensou numa que tivesse taboada, joelho no milho, caligrafia,
mas logo achou que seria pura perda de tempo.
Hoje tem o celular que faz qualquer conta pra gente.
Pra quê então decorar que 6 x 7 é 42?
Depois, joelho no milho? Isso seria tortura,
embora haja tanta amargura, agora envolvendo crianças,
aparecendo na tela do computador ou TV.
Caligrafia pra quê? Não vale o que está escrito.
Além de tudo, bonito a gente é que tem de ser
e não a letra da gente.
Tio Ângelo então desistiu de abordar essas coisas
e ao invés preferiu dizer apenas a frase
“sempre o cenário é que muda, o enredo fica o mesmo”.
Pequener, a espevitada, logo lhe foi perguntando:
- O que é mesmo cenário?
- É como a fotografia. Na rua agora onde estamos,
a gente se reunia e disputava pelada
quando eu era mais novo. Agora tá pavimentada.
Logo, o cenário mudou.
- E enredo, Tio Ângelo?, foi a vez do Izolino.
- Enredo, perceba menino, tem a ver com a história,
a emoção, o conjunto, a anatomia do fato,
e acho que é o que se repete
- Você pode dar um exemplo?, arriscou Zurieber.
- Na hora do futebol, os “bons” tiravam “par ou ímpar”
pra ver quem escolheriam pro time que iriam formar.
- Não era “cara ou coroa”?, quis saber um dos novos.
- Isso era em jogo de adulto, em campo profissional.
- Você era sempre escolhido?, de novo veio a Pequener.
- Nem sempre, eu não era um dos “bons”.
Ficava naquela emoção (depois tantas vezes sentida)
que às vezes me dava alegria,
mas que outras vezes, não (como ocorreu tantas vezes).
Depois eu vi, quando adulto, como é que se é preterido.
E às vezes que se é escolhido, como acontece agora
de eu estar aqui com vocês falando esse monte de coisas.
- E o que é ser preterido?, Izolino perguntou.
- Isso é um dever de casa, quis brincar Tio Ângelo.
E a história acabou
Rio, 02/06/2008