Conversão

As forças me faltaram e me deixaram

Em angústia agoniante a expressar-me.

Nada me espera, não há o que eu faça,

A não ser uma certeza cruciante:

Não fiz o esperado, o permitido,

Não realizei de modo certo minhas tarefas,

Não cumpri as metas para mim tão definidas,

Não soube proceder, não soube ser fiel serva...

Que resta agora? Como receber

A certeza de ter falhado com o dever,

A punição definitiva,

o meu castigo...

Como suportar este sofrer?

Razão e alma se encontram e, no duelo,

Afiam suas lanças, e eu apelo,

Mas não existe sequer uma esperança...

o humano por si só ao bem não alcança.

Não sabe avaliar, estabelecer critérios,

Não sabe apegar-se ao que verdadeiramente importa...

Perde-se em restrições, mediocridades, impropérios

Sem perceber o fim agonizante à porta...

Ó Deus, o que dizer? Não há desculpas...

Em quase todas as possíveis falhas me encontrei...

O muito me foi dado, não houve luta,

Só vejo o fim para mim... Perecerei...

Mas... Ouço algo... Algo que me reconforta...

A teu modo me fizeste compreender

Que na consciência plena da total derrota,

Há também a chance do se converter...

Há o momento em que a sensibilidade

Aguçada pela dor da perda fria e insana

Se prostra e compreende a cruel verdade,

E chora aos céus, e, aflita, por piedade clama.

E reconhece o não poder, o não querer, o não saber,

A vaidade, a falha atividade, o não compromisso

E, impotente, cala. Não pode, não deve mais retroceder,

Não há que novamente ser omissa...

Quão insondáveis, ó Deus, são os teus critérios...

Quão imensuráveis tuas misericórdias são...

Quão inescrutáveis são teus pensamentos...

Quão magnífico é o teu poder de perdão!

Nesta hora tu nos trazes refrigério

E nos tomas em tuas protetoras mãos...

E nos dizes, mansamente, à alma aflita:

Não temas, eu te ajudo, eu te sustento,

Sou teu Deus, eu te amei, para ti escolhi vida,

Estás comigo, recebe o verdadeiro alento.

cmc