Te Seguirei (Inspirado na canção homônima de Frei Gilson)

Te seguirei, eu irei aonde fores, Senhor

Faria essa promessa numa canção

Como Pedro iria com Jesus por onde for

Prometeu: para a morte ou para a prisão

Mas ao sinal de perigo, conhecê-lo negou

Uma duas três vezes disse nunca jamais

E como prevera Jesus, o galo cantou

Toda pretensa determinação se desfaz

Sobra o humano confuso e inseguro

Toda santidade eufórica vira poeira

Na estrada reta se levanta um muro

Quem se colocava ao centro vai à beira

Tua graça me basta, teu amor me sustenta

Segue o belíssimo poema como oração

Mas o diabo ao servo fiel vem e o tenta

Peneira-o como se faz com o feijão

Separando o precioso grão da inútil palha

A graça de Deus não é então o bastante?

O amor dá o sustento ou é apenas migalha?

O discípulo reprovou ou era um farsante?

O mérito da queda é do esperto satanás?

Ou o cristão só esperava o peixe pra morder?

O pretenso santo sucumbiu à mentira eficaz?

Ou já pretendia se entregar ao podre poder?

Orem e vigiem para não caírem, disse Jesus

Pedro caiu, Judas caiu, muitos debandaram

As trevas cegam, mas cega também a luz

Eles não oraram, muito menos vigiaram

O diabo peneirou, o trigo bom se perdeu

Pedro se arrependeu, Judas se enforcou

Pedro, o perdão de Deus em sua vida, acolheu

Judas, em remorso, ao inferno se entregou

E o discípulo atual deve escolher um caminho

Chegamos enfim à uma encruzilhada

Acolher o perdão como quem recebe carinho?

Ou comer a própria consciência, feito salada?

Ele entre os pobres com seu violão

Compondo e cantando suas canções

Empenhado em fazer a evangelização

Tocando com seus poemas os corações

No pescoço um santo escapulário

No peito o Santo Cristo pregado na cruz

A alegria da pobreza era seu salário

O seu lucro era servir o Senhor Jesus

Mas a serpente vê uma oportunidade

Enxerga um desejo de comer do fruto

Fazer mais, ele poderia de verdade

E lhe oferece possibilidade além de tudo

Promete o Dragão, um bom combustível

Soprar sobre sua carreira promissora

Acendendo um fogo forte e irresistível

Grande audiência em cada emissora

E o pássaro voa cada vez mais alto

Lá embaixo os pobres e necessitados

Choram sem poder dar o mesmo salto

Enquanto seus pregadores são levados

O enganador ri zombando dos infelizes

Celebrando por mais um desviado do caminho

Por que a Lei do Evangelho infringes?

Por que não permaneces em teu cantinho?

Aquela voz agora bem mais audível

Entoa que nada se pode mudar no mundo

Pois partilhar o pão se tornou inadmissível

E os pobres se contentem em ficar ao fundo

Te seguirei, eu irei aonde fores, Senhor

Tua graça me basta, teu amor me sustenta

Mas será que ainda estou no rumo do amor?

Quanto falta: dez, vinte, trinta, quarenta?

Qual distância me encontro do Reino?

Quanto tempo até os portões do Inferno?

É para valer esta corrida ou apenas um treino?

Devo enfim trocar minha túnica por um terno?

Aberio Christe