O Pastor e a Mendiga!
Num canto providencial em um prédio classe média baixa,
Trapos e cobertores malcheirosos ocultos em uma caixa.
Ao anoitecer uma mendiga entra sorrateira para ali dormir,
E logo ao raiar do dia, a esmolar nas ruas, da local ira sair.
Teme ser vista pelos moradores e perder seu precioso teto,
Já a vida a trata com extremado rigor, vive só e sem afeto.
Deseja muito um amigo, alguém que a tenha por querida,
Para compartilhar o denso fardo e as experiências da vida.
Entre uma esmola e outra algumas saudações e sorrisos,
Isso proporciona esperança e alento ao coração sofrido.
Sonha com a vida restaurada, inveja a rotina dos andantes
Porém, seus dias e noites seguem um caminho enfastiante.
Da infância sente saudade, quando crescia em ritmo natural,
Família, lar, escola, tempo em que desconhecia o bem e o mal.
A luta dos pais, poucos recursos, e as necessidades providas,
Domingo na igreja com a família, período feliz em suas vidas.
Adolescência, rebeldia, ilusões, afastara dos que a protegia,
Resta o arrependimento como guia e a solidão por companhia.
Nas tristes madrugadas gritos de socorro ecoam na memória,
Quer perdão para o pecado voluntário em uma guerra inglória.
“Deus meu, ouve minha oração, dá-me só uma oportunidade,
Desejo voltar ao regaço protetor, lutar contra a adversidade.
Creio que podes ouvir-me e atender minha sincera petição,
Tu que penetras na divisão da alma, no brilho e na escuridão.
Deixe minha luz brilhar no mundo e meu sal salgar a terra,
Faça da minha história no milagre da compaixão Paterna. ”
Numa manhã atípica, ela ouve sirenes e muita agitação,
Uma tragédia muda seu cotidiano e mexe com sua emoção.
Ergue os olhos ao último andar e vê um morador do prédio,
Disposto a pular e dar fim a vida cheio de solidão e tedio.
Desapercebida corre pelos andares e sobe a extensa escada,
Ela entra de súbito no apartamento e ante a cena fica pasmada.
E as lembranças passam diante dos seus olhos como faísca,
Assim como a morte está diante dele pronta a ceifar-lhe a vida.
É ele! Toda manhã lhe entrega um lanche com um texto escrito,
No “Pare” do semáforo lhe oferece o pacote e lhe dá um sorriso.
Por alguma razão carrega uma tristeza no olhar, parece chorar,
E repete a mesma frase “Não desista” assim acena e sai devagar.
Então ela fita-o e murmura: “Não desista, não pule meu amigo”
Olha para a minha vida, sou um trapo humano, pobre mendiga.
Não vejo razão para seguir, dia a dia vivo a fingir personagens,
Assim enfrento minha sina e me animo com suas mensagens.
Seu cuidado matinal faz-me crer que existe vida além das ruas,
Não se vá! O pouco que me dá é tudo que tenho, não o destrua.
Ele desce da janela, se lança num abraço moroso, soluça e chora,
Perdão minha ovelha! Faltou-me força para busca-la mundo afora.
Ao reconhece-la possibilitei sua entrada no edifício pelo corredor,
Deixo meu carro na rua para que você durma sob meu desamor.
Todavia hoje o inevitável ocorreu e você também me reconheceu,
Ao olhar nos olhos meus rolaram lagrimas de dor dos olhos seus.
Desapontado e triste com meu egoísmo me senti indigno de viver,
Nada justifica, rejeitar minha ovelha desviada, perdida no sofrer.
Esmolando pelas ruas, colhendo as consequências da transgressão,
Contudo correu a chamar-me de volta a razão, imploro seu perdão,
Seu ato devolveu-me o anseio de reviver o amor de jesus em sujeição,
Livrou-me do castigo eterno, jamais poderei retribuir tamanho favor.
Deus está nos concedendo a chance de voltar ao aprisco acolhedor,
Abandonemos a miséria, sejamos Pai e filha, ovelha e pastor.
O milagre acontece na vida daquele que crer no Deus do impossível,
De maneira extraordinária, contrariando toda lógica inadmissível.
Em Jesus há luz no fim do túnel, a fé e a esperança jamais se findarão,
Ele cuida dos seus filhos com terno amor, e escuta a sincera oração.
O “Bom Pastor” através da cruz resgata a ovelha irresponsável,
Oferece o lar celestial, cuidado paterno, fartura e vida imutável.
Trata o arrependido com compaixão e atende a sua mão amiga,
Ainda que atravesse o vale da morte como o pastor e a mendiga!
Luzia Ditzz
Campinas, 09 de outubro de 2019
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