CENA INCOMPARÁVEL
(A crucificação)
Ao despontar de mais um dia
Levantei-me e caminhei até a varanda.
Submergido em pensamentos
Fitei o olhar para a alta enlevação.
Contemplei uma cena incomparável
De alguém que sofre inocentemente
Por se doar no lugar do outro
Imóvel, sem forças
Sofria calado.
É tão abstrato tudo que vejo!
Que me vem a imagem de um ser
A carregar uma pesada cruz
E os seus opositores o maltratam,
Rasgam-lhe suas roupas,
Chicoteiam-lhe fortemente,
Argumentam e zombam
Do Ser indefeso.
Refletindo a vista, posso ver
Um homem à direita
Outro a esquerda
E muitos estão a insultá-los
E dizem: “Podes Tu,
Defender-se a Ti mesmo?
Então, levanta-te dessa cruz!”
A resposta que veio a se ouvir
Quando dos lábios sua fala saiu,
Argumentava assim:
“Eli, Eli, lamásabactâni”
Que em outras palavras é:
“Deus meu, Deus meu,
Por que me desamparastes?”
E todos continuavam a zombar,
E aquele homem tão sofrido,
Pedia-lhe água e um deles lhe deram vinagre.
Mas, mediante todo seu sofrimento,
Ele ainda exclamou, “Pai, perdoa-lhes
Porque eles não sabem o que fazem”!
Em seguida, ouvisse um grande suspiro.
Que desfalece-se e sucumbe-se.