OVELHA NEGRA
OVELHA NEGRA
Alguém na manada viu uma luz que no céu fluiu
Alguém na manada pescou uma canção de amor
Do rebanho saiu, com passos miúdos se afligiu
Em busca de uma coisa preservada de tudo, tudo
Que encontraria no bando ali reunido todo dia
No dia a dia da Igrejinha pastores focinhavam
Conspiradores de panelinha. Organizavam odes
E festas para distrair seu fiel rebanho insólito
De estranhos. Sob o luar das águas de março
Excêntricas energias no cercadinho da lotérica
Fluíram no looping de abril. Almas circularam
Num jogo esperto, sem carinho ou franqueza
A honestidade lhes era impossível. No cercado
Ladravazes da confiança distraída, desprovida
De meios de curar dores e feridas, a didática do
Enganar consciências supostamente ingênuas
Em colisão de pensares como se fossem astros
Expatriados de seus mundos desvalidos, sós
Sozinhos, explorados e em colisão. O cabeça
Da mancheia, sapiens sozinho coisa alguma a
Mais sabia, senão que se distanciar dali seu
Coração, sua mente, sua alma pediam. Passo
A passo caminhou em direção a horizontes
Que para ele se abriam. Saiu da proximidade
Daqueles espertos pastores do medo que lhes
Roubavam a confiança, criminosos crentes
Na impunidade. No outro dia viu pela 1ª vez
Um rio e se batizou em suas águas. Atônito,
Havia recuperado sua percepção do mundo
Distanciando-se da terra minada da chusma
Sentiu as ondas, viu a espuma delas a fluir
E a se desmanchar na praia pela primeira
Vez viu o mar com olhar surpreso, extasiado
Nenhuma mínima profundidade havia antes
Sua percepção de si mesmo, de tudo o mais
Havia sido roubada na pastagem lavrada sim
Pelo medo, pelos caninos gananciosos dos
Poderosos. Olhou a arquitetura mosaica, a
Agregada gleba do Planalto. Sentiu em seu
Coração de menino uma grande solidão. E a
Satisfação por não ser mais mugidor de hinos.