A OLIVEIRA LÁ DO MONTE...

Ontem ao luar

Eu estava triste

- Em solidão

- Quase em tentação

Pensei sereno...

E calmo perguntei

- O que levou Jesus

- A divina cruz?

E no luar tranqüilo

Daquela madrugada

- Lá no monte a meditar

- O Cristo com a oliveira

Em silêncio a conversar

Desvenda-lhe um segredo

- Um segredo milenar...

- Que num desejo incontido

O Messias em lágrimas

De sangue, vai aos poucos

- desvendando a árvore secular,

- em choro soluçando

E o coração sangrando,

Diz a ela o que é o amar...

Não choro por Madalena

- ela há de se arrepender, eu sei!

Muito menos choro por Pedro,

- eu já o perdoei por me negar!

Não choro por Judas

- eu nada posso fazer pela escolha que fez!

Chorar pelos fariseus, hipócritas?

- não, isso seria chorar em vão!

Não choro pelos que me matarão,

- por eles pedirei perdão!

A angustia que sinto latente

No peito a sangrar, no rosto

A exprimir em gotas de sangue,

Não é a dor do momento presente,

De não poder suportar a cruz,

De não poder suportar a dor da traição,

De não poder suportar a ignomínia do desprezo,

De não poder suportar o opróbrio da negação,

De não poder suportar o peso dos pecados,

Mas a que está ausente e bem distante

A séculos e milênios a minha frente...

Dor de um soldado combatente,

Tombando sozinho no campo de batalha

Na angustia de que tenha sido tudo em vão...

Não por Madalena

Não por Pedro

Não por Nicodemos

Ou por Zaqueu...

- Por horas houve um silencio profundo

- Capaz de ouvir-se as gotas de sangue

- Uma a uma, num estrondo ensurdecedor

- Caindo na rocha em que o Senhor se apoiava...

A oliveira lá do monte condoída,

A lamentar

A chorar

A desesperar-se

A se desfolhar,

Confusa se Põe a perguntar

- Meu mestre, por que esse pensar?

- Por que em vão Senhor, por que?

Minha querida oliveira

Só você o saberá

O porque da dor

Que sinto no mais

Profundo do meu ser...

- Sim, meu querido salvador...

Vejo o futuro no horizonte

E as minhas lágrimas de sangue

São por aqueles que não me

Aceitarão, bem perto do fim de

Todas as coisas... No século vinte e um.

Poeta Camilo Martins

Aqui,hoje,15.10.08