A PALAVRA
Eclodiu em meio ao ermo,
Nos anais da amplitude
A Palavra e que Palavra:
Doce som de alaúde!
Ah! Palavra, Ah! Palavra
Onde estás, onde te vejo
Onde te apalpo, te pego,
Te abraço de desejo?
Silenciosa e incisiva
Como ave de rapina,
Presa ou solta se dissolve
Como água cristalina!
Ah! Palavra, Ah! Palavra
Onde estás, onde te vejo
Onde te apalpo, te pego,
Te abraço de desejo?
Perceptível letreiro
Com o que há de mostrar.
Projeta ideias hilariantes,
Muda a forma de pensar.
Ah! Palavra, Ah! Palavra
Onde estás, onde te vejo
Onde te apalpo, te pego,
Te abraço de desejo?
Síntese ao léu, dê guarida.
Eis aí revolução.
Contradiz o vão preceito,
Extermina facção.
Ah! Palavra, Ah! Palavra
Onde estás, onde te vejo
Onde te apalpo, te pego,
Te abraço de desejo?
Em lugares tão distintos,
Nos pacatos estás também.
Nos arredores dos guetos,
Becos e bairros d'além.
Ah! Palavra, Ah! Palavra
Onde estás, onde te vejo
Onde te apalpo, te pego,
Te abraço de desejo?
Quero ouvir-te ante a morte.
Crer e suster o eterno.
Palavra mais é minha sorte,
Mantém meu suspiro terno!
Ah! Palavra, Ah! Palavra
Onde estás, onde te vejo
Onde te apalpo, te pego,
Te abraço de desejo!