SEM RIMA 94.- ... boca ...

Diz o Evangelho de Tomé (14): "14. Jesus disse-lhes: Se jejuardes, cometereis pecado. Se orardes, sereis condenados. Se derdes esmolas, prejudicareis ao espírito. Quando fordes a um lugar onde vos receberem, comei o que vos puserem na mesa e curai os doentes que lá houver. Pois o que entra pela boca não o torna um homem impuro, mas sim o que sai da boca, isto vos tornará impuros."

Que coincide com o que diz o Evangelho de São Mateus (15, 11): "Ouvi e compreendei. Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que mancha o homem."

Que réstia de imagens fantásticas

provocam em mim, (aprendiz de) poeta,

estas reflexões, a herética (segundo as hierarquias)

e a ortodoxa (segundo essas mesmas autoridades):

imagens complacentes, de satisfações íntimas

e espirituais,

mas também imagens "non sanctas"...

Seria alguém capaz de recitar, um por um,

todos os possíveis objetos, alimentos

ou, em geral, "cousas" a poderem ser acolhidas,

sorvidas, chuchadas, acariciadas com os lábios

ou mesmo sentidas nos beijos e lambedelas?

Acho que não existe essa pessoa.

Mas também acho que todas as pessoas que o tentarem

calariam por rubor ou esquecimento procurado

bastantes dos possíveis elementos

que a boca puder provar, engolir

ou apenas apreciar com prazer...