LIBERTAÇÃO I & MAIS

LIBERTAÇÃO I [Colossenses 2: 6-15)

[para Iblecy Skilhan Martins]

Se recebestes já Cristo Jesus,

andai Nele, confirmados nessa fé.

crescendo em ações de graças, sempre em pé,

na certeza da vitória de sua cruz.

Não vos deixeis enrolar em sutilezas

de tradições e vãs filosofias.

As teias, rompeu todas o Messias,

que trocou as leis humanas por certezas.

Deste modo, o documento desta dívida:

espólio do pecado original,

que dizem ao nascer teres herdado,

foi rasgado na cruz da morte vívida;

e às potestades do mundo pôs final,

no próprio instante em que foi Crucificado.

LIBERTAÇÃO II [Colossenses 2: 6-15)

[para Iblecy Skilhan Martins]

A quem vos diz que herdastes transgressões,

lembrai que, no batismo, sepultados

fostes com Cristo; e então, ressuscitados,

despidas para sempre as criações

da mente humana, em suas ilusões,

de ordenanças tão só prejudiciais,

de mandamentos tão só tradicionais,

da exigência de tais circuncisões.

Na morte viva, demonstrou desprezo

por todo o labirinto construído

nas leis humanas de tantos principados.

E um mundo novo foi, desde então, aceso.

E o mundo velho inteiro redimido,

nesta cruz: em que pregou os teus pecados.

O JOVEM RICO [Mateus 19: 24-30]

[para Iblecy Skilhan Martins]

Um jovem de Jesus aproximou-se um dia

e lhe indagou sincero: "Oh Mestre, que farei,

para herdar dos céus o reino?" E respondeu-lhe o Rei:

"Sempre os preceitos que a lei de ti exigia

Cumpriste?" E o jovem respondeu, sem fantasia:

"Sigo os Dez Mandamentos, os que Moisés à grei

transmitiu; e mais ainda, os ditames dessa lei

que nos dão os fariseus. Cumpro, à porfia."

Respondeu-lhe o Senhor: "Se queres ser perfeito,

vende tudo o que é teu e aos pobres distribui.

E, depois, segue-me, que um tesouro tens

recolhido nos céus, ao qual terás direito..."

E o outro entristeceu-se. E a intenção lhe flui,

que o jovem era rico... E herdara muitos bens.

TELOGONIA I

[Capriccio de Sonetos]

Quando Deus inicialmente o mundo cria,

[cria, cria, eu sei em mim que cria.]

tudo é sem forma ainda e não tem nome.

[nome, nome, inominável nome...]

Mesmo porque, na escuridão insone.

[mas piscando, mui certamente.]

o Universo inteiro ainda fazia.

[e a cada piscadela o mundo espia.]

Olhando para Si [de que jeito, não sei],

resolve um dia [dia a dia, dia adia.]

criar a luz, para ganhar renome,

[mas renome entre quem?]

pois, mesmo a Deus, a solidão consome

[some com some sem some, come]

e ver dentro de Si, Deus pretendia.

[embora, sendo eterno, não possa ter a intenção

de nada realizar no futuro].

E a luz se fez [de fato, Ele a fez ou a luz O fez?]

e contemplou o Pai [papai, meu pai!...]

como tudo era levado de mistura

[até a pureza extremamente pura],

na temerosa vastidão do caos.

[com a vasta confusão da massa impura].

E Ele Se olhou, achando que eram maus

[como é que eu sei disso?]

esses reflexos de sua grande altura

[ou seja, era um deus muito comprido?],

e a nova criação assim se atrai

[trai trai, atrai traíra iratra trai o trem.]

TELOGONIA II

[Capriccio de Sonetos]

Já que ria,

porque é preciso saber que, quando cria,

posto que chia,

nada retira Deus da natureza.

pois que fraqueza,

visto que ela nem existe, em sua firmeza,

vez que fineza,

salvo dentro de Si, em Sua harmonia...

desfaz

Nem tampouco retira algo de Si,

afasta

para que o mundo exista fora Dele.

irretorquível

Isso é impossível, pois tudo existe Nele,

irretrucável

Nele se move e torvelinha em frenesi.

Zeus

jeito,

Pois Deus é infinito, de tal modo,

a Deusa

maneira,

zero

que o próprio nada se encontra no seu seio

nulo

abrange

aziago.

e abriga o mesmo caos, em sonho antigo.

engloba

amigo

belo

O éter inconsútil, o bem e o engodo

justo

fronteiras

comigo

Não há limites no Seu estar Consigo

cercados

contigo

penetra

E tudo Ele preenche, e em Seu anseio.

abarca

TELOGONIA III / TELOGONIA IV

[Capriccio de Sonetos III e IV]

Portanto, a criação não vem do nada,

E é deste respirar que tanto cria:

porém da substância divina, da inefável

a luz nasce de Si, não vem de fora

perpetuação que intersticia, alada,

e o caos é revelado, muito embora

todo e qualquer espaço mensurável

eterno e desde sempre: já existia.

e mesmo além, que maior é que o infinito:

É então que Se contempla e vê de novo,

é ilimitado em Sua vastidão,

que alguma coisa precisa pôr em ordem,

existe desde sempre, em Seu bendito

porque tal deus é inimigo da desordem:

palpitar de um eterno coração.

quer coisas limpas em processual renovo.

E quando cria a luz, é que respira

Também embora Lhe pertença a confusão

à Sua própria maneira, sem que ar

e tantas coisas que chamamos "mal",

exista fora Dele, para enchê-Lo.

mas que Nele se encontram, na total

Aspira-Se a Si mesmo; e, então, expira,

revoada interior da absorção

para Si próprio de novo contemplar,

de quanto Dele flui e Lhe retorna,

nesse inefável e imaterial desvelo.

pois fora Dele é impossível tomar forma.

PREDADORES

Quando disseres: "paz e segurança",

cuida o perigo que aparece então.

Nunca dês paz ao manso coração,

para que desfrutar possa, em sua pujança,

o inesperado, que assalta sem tardança,

quando menos se aguarda uma invasão.

É adverso esse mundo, sem razão,

e indiferente a teu mal ou tua bonança.

Prepara-te, portanto, e sai de lado:

transforma em bem os golpes do mortal

destino... Sempre pronto a machucar.

Eu não me iludo em dia sossegado:

são apenas morcegos de cristal,

que me contemplam, antes de atacar!...

BISTURI

é só me predispor, que à tona sobeM.

nessa cascata, que jorra aos borbotõeS,

contrária à gravidade dos sertõeS,

que conformam minha lida e que recobreM

com plenitude a Terra e assim descobreM

os lençóis enxovalhados de ilusõeS

e apresentam os esgarços e os rasgõeS

que se formam na mente e mal se podeM

estender, sem que maus ventos esfarrapeM

essas mortalhas de vida engazopadA

na malícia dos versos, nessa fontE,

que nem sequer pretende ser a pontE

entre minha vida e a tua destiladA,

mas que deixo que das veias se me escapeM.

A DAMA DOS ELÉTRONS

[para Marilene Zimmer]

Conheço e não conheço. Sei que é bela,

pelo que me escreveu. Não vi seu rosto.

Já lhe fiz um soneto, mal sei onde foi posto.

Bem sei quanto é formosa, porque dela

Palavras de coragem escutei: que a vela

da luta pela vida ergue a seu gosto.

Por mais tenha sofrido, em seu desgosto,

sua face assoma, à luz desta janela

que tenho no escritório. Nesta tela,

eu leio seu ardor e vejo a simpatia:

mulher desconhecida que já conheço tanto.

Por tudo que escreveu, que me revela,

seus dotes multifários e seu pranto

por um filho que não teve e que queria...

William Lagos
Enviado por William Lagos em 31/07/2011
Código do texto: T3129796
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