REMORSO

Sebastião Gomes

Eu vi quando chegavas, maltrapilho,

Triste o semblante, o olhar sem brilho,

Querias me falar...

Mal pude ouvir a tua tênue voz

Ali no trânsito cruel, veloz

Parei pra te escutar.

Humildemente te achegaste a mim

E, com ternura, me falaste assim

Com jeito de chorar...

Pediste uma esmola, um dinheiro!

Estavasa tão cansado! O dia inteiro

Andaste a mendigar.

Cruel, a minha ajuda te neguei,

Diszendo que não tinha, que gastei

O pouco que tivera.

Cobriu-te logo o negro pó da estrada.

Que estava a tua espera...

Porém, meu coração ficou pesado,

Por ter a minha ajuda te negado

Na hora em que te vi.

Perdoa-me, Senhor, porque fui cego.

E agora este remorso eu carrego:

Não Te reconheci!