Sombra
A sombra se locomove por lugares sombrios,
pois a claridade tem muita luz;
Barganha aquecer recantos sós e frios,
pelo combustível do vício, inglória cruz…
A noite sua aliada permanente,
noite que chega a cada dia;
Com seu véu oculta ao olhar dessa gente,
que um amor sem amor, a miséria propicia.
A luz não alcança onde a sombra habita,
não têm pois, nada em comum;
O que uma expõe, outra evita,
não coabitam em tempo algum.
Súditos da luz até cruzam recantos,
onde a outra estabelece seu reinado;
Desconfortáveis passos, no entanto,
que pressa em sair do outro lado!
Escolhem pelo instinto essas pessoas,
e as ocultas usufruem falsa paz;
Não porque as trevas sejam boas,
antes, porque suas obras são más.
O luminar veio, foi repelido,
a cruz mostrou o que o homem pensa;
Amor-próprio quando desmedido,
é a medida exata da indiferença.
Suas obras então, só escombros,
mas propaladas em alvoroço;
Não suportando uma cruz nos ombros,
penduram um simulacro no pescoço.