Deserto
Hélio e Selena circundando o planeta
contemplam mudar o ser, a vida;
e o trovão que sempre repete sua vinheta
protesta, tanta chuva perdida.
A hipocrisia organiza o comício
e é a primeira a discursar;
criticando a copia do vício
sem uma virtude pra se plagiar…
Alma intáctil, não deixa o ninho
gira o mundo, e ela segue criança;
sob um rosto marcado, pergaminho,
ao menos esse, o tempo alcança.
Terra estéril, semeadura vã
de todo conselho sábio lançado;
e o orvalho que visitou cada manhã
jamais viu um fruto, por si molhado.
O vento empurrando dunas, deserto moral,
nada vive entre a areia;
tempestade que grassa sobre o areal,
sem uma fonte, sequer uma tamareira…
E quando o Eterno tira água da rocha,
o indolente beduíno permanece na rede;
reputa miragem, a flor que desabrocha,
estranho camelo que não sente sede…