ONDE ESTÁ DEUS! (parte 1 de 7)
ONDE ESTÁ DEUS!
Eu vejo DEUS em tudo: na terra e no céu;
Galgando nuvens e galopando num tropel;
Levando-nos nas costas, dentro de um farnel;
No trono celestial, no gólgota e no mausoléu;
No topo da serra; passeando e vagando ao léu;
Sobre o muro, no leito, no berço e atrás do véu.
Você não vê a face humana de DEUS?
No semblante e nos olhos dos filhos teus?
Observe imparcial, não seja como os fariseus!
DEUS está na bíblia e no âmago dos ateus;
Está no talmude e nas linhas destes versos meus;
Está na necromancia e na mitologia do erótico Zeus.
Nos salmos de Davi e no harém de Salomão;
Nos cânticos dos apóstolos e na sua genuflexão;
Nas confusas parábolas e na divina ressurreição;
Nas vagas metáforas para nos servir de ilustração;
Na interpretação dos provérbios de difícil compreensão;
Nos inacreditáveis milagres e na dubitável reencarnação.
Está no ambíguo, no invisível e no onipresente;
Está no vingativo, no bondoso e no excelente;
Está no amorfo, no redondo e no onipotente;
Está no manso, no bárbaro e no onisciente;
Está no suspeito, no culpado e no inocente;
Está no passado, no futuro e no presente.
No silêncio da igreja e no sino a badalar;
No abraço da sorte e no lamento do azar;
Na careta de choro e no rosto a gargalhar;
Na superfície do lago e nas profundezas do mar;
Na escuridão da masmorra e na clara luz do luar;
Na blasfêmia do herege e na veneração do avatar.
Está na anti-matéria e na esmola recebida;
Está na mira do revólver e na bala perdida;
Está no caractere árabe e na letra grega invertida;
Está no bálsamo que cura e na adaga que faz a ferida;
Está na quadradura do círculo e na tangente estendida;
Está na epidemia que leva a morte e no sêmen da vida.
Na música erudita e no ritmo da quena;
No calor sufocante e na sombra amena;
No pé-frio e no ganhador da mega-sena;
No ônibus lotado e nos cristãos na arena;
Nos pistões do motor e na parelha de rena;
Na negação de Pedro e na abnegação de Madalena.
Deus está no jovem coroinha e no rabino senil;
Deus está no fio da navalha e na trava do fuzil;
Deus está na ovelha no pasto e no leão no covil;
Deus está no bafo de onça e na cerveja no barril;
Deus está na fraude na loteria e na cédula de mil;
Deus está no volante do carro e na brocha do canzil.
Está no frio do ártico e no Saara escaldante;
Está na carícia da mulher e no murro estonteante;
Está no ruído da máquina e na fonte murmurante;
Está no utópico lobisomem e na borboleta mutante;
Está na inquisição católica e no expurgo protestante;
Está no namorado, no nubente, no conjugue e no amante.
Está no pigmeu Golias e no gigante gameta;
Está no prefeito honesto e na cobra de muleta;
Está no segredo do cofre e no fundo da gaveta;
Está na gasolina da binga e no tabaco da boceta;
Está no magma de júpiter e no plasma na proveta;
Está na pregação do profeta e na lábia do proxeneta.
Deus está na gênese da criação e na teoria da evolução;
Deus está na missa cantada e nos gritos do culto pagão;
Deus está na tiara do papa e na metralhadora do capelão;
Deus está nas regras da sutra e na intransigência do alcorão;
Deus está na descendência dos hebreus e na prole de Abraão;
Deus está no pagador de promessa e na hipocrisia da sua devoção.
(junho/2003)
N. B. Ouvindo as vozes da razão, acatei alguns amigos RECANTISTAS; e, mudei o título.