Eu era

Eu era um deserto e um vazio.

Existência sem-sentido, vida sem-razão.

Chão morto queimado de estio.

Astro perdido, filho da escuridão.

A morte foi minha companheira,

O desespero se tornou meu irmão.

Eu era a palha seca da eira,

A menor parte do nada, um rabisco no chão.

Eu era o mar soturno, tempestuoso.

Agitado por vagas malditas.

Era eu batel solitário e tenebroso,

Afundado nas águas escuras das desditas.

Eu era um trágico por do sol,

Um infeliz e sombrio entardecer.

Destinado a ver o nascer da noite,

Fadado a ver o dia morrer.

Eu converti minha vida em quimera,

Tornando-me espectro da ilusão.

Eu era a flecha que o alvo erra,

Atirada sem rumo, sem direção.

Eu era um arco-íris sem cor,

Um quadro cinza e sem moldura.

Eu era o retrato falado da dor,

Um homem a caminho da sepultura.

Eu era um livro não lido e esquecido,

Abandonado, de páginas envelhecidas.

Amarelado, sujo e puído...

Maldito livro, maldita lida.

Tudo para mim estava perdido,

Não tinha esperança, não tinha sorte.

Meu incessante pedido:

Que me leve dessa vida a morte.

Quando eu caído esperava a morte,

Encontrou-me o Caminho, a Verdade e a Vida.

Voltei a viver; recomecei minha história.

Reinventei a vida. Que alegria, que glória.

Van Luchi
Enviado por Van Luchi em 01/12/2010
Código do texto: T2647963