Dias contados
Haverá quem conte seus dias,
ou vivemos apenas na ilusão do agora?
Esta vida é feita de dias contados,
mas os dias são feitos de momentos eternos.
Porque para as gentes, as tardes não são passageiras
e o azul do mar jamais sairá de seus olhos.
Esta vida é feita de dor transitória,
de alegria temporária, de angústia provisória.
É feita também por barulhos que se calam,
silêncios que se quebram e assuntos que se findam.
Toda esta vida é feita de pressa
para ter, pra comer, pra saber.
E dos dias não querem ver o fim,
só viver pra nascer, crescer e morrer.
Esta vida tem horas profundas,
tão rasas como o chão em que piso.
Tem ainda muitas horas incertas,
tão certas como o céu em que miro.
Nesta vida o correto é viver:
beijar, abraçar e afagar.
É levar no semblante a leveza
do pesado das coisas que há.
Nesta vida o correto é morrer:
deixar, se dar, não ficar.
É trazer bem no peito a paz,
que a guerra daqui de nós quer tirar.
Haverá, pois, quem conte seus dias,
ou vivemos todos na ilusão do agora?