FÉ CEGA

Caminho olhando forçosamente os vastos campos

Penetrantes com estradas sombrias numa noite chuvosa,

Sigo entrando em cada rua cheia de candura e de sóbrio pensar,

Pergunto-me onde estão os lampejos de certos desejos que a vida traz,

Sinto nos umbrais gritos vagarosos, carinhos nos instantes onde

Não há ninguém mais....

E vou, caminhando em corda bamba,

Já não sei se viver é só um drama no momento que procuro

Minhas lembranças e lágrimas escorrem como antigos carnavais,

Como risadas deixadas para trás, e vou,

Não paro, tenho que andar,

Tenho minhas vontades escondidas em pinturas

Jamais vistas nem por mim nem por ninguém,

E vou, meio que alheia a dor física, psicológica, espiritual,

Finjo que estou rindo, vou seguindo, espantando o medo,

Como um grande temporal,

A chuva é forte, tragada a roupas molhadas,

Sinto-me gelada num lugar sem cobertas,

Franzo a testa e pergunto-me por que estou tão só,

Nesse caminho ardido, parecendo o sol do sertão,

Solto um rugido feito uma leoa, e coisa boa

É sentir-me tão forte assim...

Algo de mim se foi, algo de mim perdi,

Procuro em letras e poemas o que deixa-me

Mais serena e componho meus versos e rimas,

Meus sonetos e canções, trazendo a dor como tema,

Tragando o mal sem pena,

Fazendo de sua morte o meu refrão,

Sigo, caminhando rumo a Deus,

Fé cega que aconchega-me na dor do peito que pleiteia,

Na mulher madura que escura quer clarear,

Na morte viva que bendiga

A fé que leva-me a cura,

A cura que leva-me a escrever a vida,

A vida em meu peito a vibrar.

Teônia Soares
Enviado por Teônia Soares em 01/07/2010
Código do texto: T2352647
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