FÉ CEGA
Caminho olhando forçosamente os vastos campos
Penetrantes com estradas sombrias numa noite chuvosa,
Sigo entrando em cada rua cheia de candura e de sóbrio pensar,
Pergunto-me onde estão os lampejos de certos desejos que a vida traz,
Sinto nos umbrais gritos vagarosos, carinhos nos instantes onde
Não há ninguém mais....
E vou, caminhando em corda bamba,
Já não sei se viver é só um drama no momento que procuro
Minhas lembranças e lágrimas escorrem como antigos carnavais,
Como risadas deixadas para trás, e vou,
Não paro, tenho que andar,
Tenho minhas vontades escondidas em pinturas
Jamais vistas nem por mim nem por ninguém,
E vou, meio que alheia a dor física, psicológica, espiritual,
Finjo que estou rindo, vou seguindo, espantando o medo,
Como um grande temporal,
A chuva é forte, tragada a roupas molhadas,
Sinto-me gelada num lugar sem cobertas,
Franzo a testa e pergunto-me por que estou tão só,
Nesse caminho ardido, parecendo o sol do sertão,
Solto um rugido feito uma leoa, e coisa boa
É sentir-me tão forte assim...
Algo de mim se foi, algo de mim perdi,
Procuro em letras e poemas o que deixa-me
Mais serena e componho meus versos e rimas,
Meus sonetos e canções, trazendo a dor como tema,
Tragando o mal sem pena,
Fazendo de sua morte o meu refrão,
Sigo, caminhando rumo a Deus,
Fé cega que aconchega-me na dor do peito que pleiteia,
Na mulher madura que escura quer clarear,
Na morte viva que bendiga
A fé que leva-me a cura,
A cura que leva-me a escrever a vida,
A vida em meu peito a vibrar.