TINTEIRO DA VIDA
Procuro na cartilha do meu coração
As letras com as quais eu possa escrever palavras
Contidas, reprimidas, escondidas,
As quais eu não gostaria em vê-las tão sofridas,
Tão esquecidas num canto qualquer em meu escrever,
Procuro juntar sílabas indecifráveis,
E vão surgindo pensamentos tão frágeis,
Que minha cartilha corre o perigo de rasgar-se...
Ó quão doce seria meu falar,
Se as letras com as quais teimo em buscar,
Dessem a liberdade em fazer-se frases,
E com muitos eu fizesse as pazes
E tão somente meus versos soltasse,
Ah! Sim,
Seria um dicionário com palavras infinitas,
Seria o livro saído do alfabeto da minha existência,
E com muita insistência, escrevo, não resisto,
Não consigo passar a vida sem o escrito,
É dom de Deus e não desisto,
Assim como muitos vivem e nada falam,
Nada fazem, tão somente passam,
E não sabem por que,
Vivo eu tão diferente,
Jogo tudo no escrito,
Talvez por isso melhor vivo
Deixando escrito esse livro,
Saído dos pequenos esconderijos
Que saem respingando como suor em meus poros,
Aquilo que nunca tinha dito,
Muito sentido,
Mesmo que poucos tenham lido
Todas as letras,
Com todas as frases,
Do meu universo escrito,
Do registro escrito
Com o suor,
Com o sangue,
Com as lágrimas,
Com uma tinta que não se apaga,
Pego a caneta e faço palavras,
E assino embaixo
Com a ajuda permanente de Deus
Que a mim deu um tinteiro chamado VIDA.