“Só Deus pode ser por nós”
Pensamentos fluem e fogem.
Sua mente limita-se ao ilimitado.
O vôo dos pássaros é seu em um momento,
o ir e vir das ondas lhe pertence e, como canção de ninar, o leva ao nada.
A um nada que de tudo é formado...
No silêncio da noite ele surge e na solidão do adeus ele permanece.
Fica. Não se vá. Pede-lhe a vida.
Mas que vida, sobrevida, é esta de morrer-se então?
De não possuir nada e sonhar ser tudo.
De não construir nada e sentir-se nulo.
De não pertencer a si mesmo e de tornar-se uma presa, casta e vã de sonhos...
Que caminha, arrasta-se e prostra-se fraca.
Que se mostra e se mata, pois de ser assim já não se pode ser,
pois de viver tal qual pretende, há de ruir-se e,
em plenos pasmos, espasmos, consola-se e chora.
Odeia-se e ama mais aos outros do que a si mesmo. Tenta consertar-se, mas na verdade, em um instante, desconserta-se.
Qual confluência é esta que a atordoa, por que pretende ir além do que é seu.
Há um muro que o separa do outro, então não queira fingir que não o enxerga e nem o vê.
Acalme-se e lute a sua luta, deixa a do outro a ele pertencer.
Dar forças sim, isso lhe cabe.
Torcer e abraçar pode, mas ir mais à frente do caminho seu, isso não, isso não pode...
Pode dar de si, sem dar a si. Pode desejar vitória, sem ela tenha que vir de você.
Não tome o fardo alheio, tome apenas o seu.
Sendo assim sente-se mal, egoísta e inútil?
Pois saiba que assim que pode ser mais útil.
Só Deus ser pode por todos e não você.
A Ele leve as suas dores e as do outro,
Mas lembre-se: limite-se a carregar só o fardo que é seu...
Tetê Azevedo
1º/12/2001