A ESPERANÇA VEM

A brisa sopra com ardor

mesmo que ensimesmada,

telhados e varais abandonados

lembranças antigas esquecidas

revolvidas como folhas secas

seguindo estranhas evoluções

como um balé, clássico, escrupuloso

como se o palco, infindável,

na sua magistratura cênica

misturasse todas as esperanças

e não enxergasse o vazio.

Esse vazio além do mensurável

que só faz crescer desde Adão,

e nos dá essa sensação dorida

de estarmos a sós nessa imensidão.

Mas como a brisa que passa

essa solidão também vai passar

pois dia está assomando

em que o que ali atrás separou-se

ao seio do criador se achegará

e o vazio em definitivo se extinguirá

o nada perderá sua razão

e até o frio da negação se extirpará,

ao comando do Verbo que dirá:

Vem filho amado, vem!