Espinhos e Consolo

Que a vida é difícil? Ninguém ensina mais que ela.

Porventura todos não amanhecem chorando ensaguentados?

O sofrer bate à porta de qualquer um.

É corrente espinhosa nos nervos

É fardo de aço quebrantando a espinha das emoções,

É frio nas entranhas se convulsionando em brasa.

Também a aflição pairou por aqui.

Sombra de ansiedades cegavam o coração.

O reflexo da minha angústia despedaçava-se

Em mil partículas que eram lágrimas de fogo,

Na boca o sabor amargo das lamentações.

Caminhar por um grande vale onde os céus são de bronze

Em que tudo parece um ardil da solidão,

Em que se pensa tanta coisa,

Pergunta-se tanta coisa . Tantos porquês e a terra não responde.

E ao nosso lado sempre companheiros do sofrer.

Mães de colo vazio. Onde estão os rebeldes filhos?

Filhas abraçadas à vestes do pai que se apagou.

Suadas mãos tocando-se num leito de dor.

O estalo de alianças partidas, retratos dilacerados,votos rasgados.

Espectros de sorrisos. Esqueceram o que é riso.

Mas na súplica incontida, no prostrar do meu ser,

A Deus deixo voar a voz.

Vem, ó Pai! Um abraço seu é tudo o que espero.

Mesmo sem ecos despertando respostas nas alturas.

Ainda que passe pela fornalha terei o refrigério de sua presença

No inverno das frustrações seu consolo me aquece.

Quando o sonho desmoronar invocarei a Deus

E sei. Ele me dirá :Vou reconstruir melhor

Mesmo que fujam as amizades, o fiel amigo permanecerá.

Quem não encontra esperança e luz nos braços de Deus?

Qual semblante sombrio não se iluminou ao ouvir sua voz?

Quantas tristezas sobre o altar recolheu convertendo em festa?

Podem as lembranças nos trair

A noite se prolongar e a necessidade não se despedir

Tudo e todos se calarem indiferentes.

Deus não se cala.Mesmo sem palavras

seu agir é um discurso de amor e atenção.

Dá-nos segurança para levantar a cabeça mesmo ferida.

No andar pelas areias da prova Ele sustenta.

Refulge a certeza: a tempestade que assola, adormecerá.

E maior consolo se reserva quando suas mãos poderosas e doces

um dia e eternamente limparão dos olhos toda lágrima

inspirando sorrisos jamais vistos.

Quando enfim a beleza da verdade se cumprir na promessa:

Eis que tudo se fez novo. Não haverá mais morte, pranto, clamor, nem dor

Porque já as primeiras coisas são passadas.

Renan Moraes
Enviado por Renan Moraes em 25/08/2009
Código do texto: T1773715
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