Janela da Alma

Ah, meus olhos !

Que os quero santos, que os almejo puros!

Janela da alma, lâmpada do corpo

Para que os quero, se a quedar impuros

A luz que há em mim, a serviço das trevas

Contra Deus, erigir um muro?

Ah, meus olhos!

Que os quero fitos , jamais cerrados

Ao sofrimento do meu irmão, pobre, triste, oprimido

Cuja ilusão deitou por terra os sonhos.

Sejam assim, atentos a contemplar a glória do meu Salvador

Para que meus pés, por esta luz guiados, acudam o sofredor.

Ah, meu olhos !

Que os quero atentos, a buscar a vida

Que se oculta sob a cortina da morte.

Colírio do Espírito rasgue o véu da descrença

Que como nuvem de desventura

Paira sobre o coração deste século como doença.

Ah meus olhos!

Cuida que a luz em ti não me faça cego

Poder, ciência e arrogância

Não sejam mortalha a cobrir minha ignorância.

Que a lâmpada do Espírito, em mim de contínuo acesa

Guie -me à cidade santa : a casa paterna

Meu rosto sob a luz desta glória resplandeça

Quando diante do trono santo estarei na minha morada eterna.