CONFISÃO DE UM TRAIDOR. A poesia de Padre Fábio de Melo
Se eu tivesse tido forças pra voltar
Se as moedas não pesassem tanto em mim
Se eu procurasse por você
Fizesse o que fez Cirineu
Se eu lhe acompanhasse
Se eu tivesse me encontrado com você
Com outro beijo lhe pedisse o seu perdão
Se ao menos outra vez
Eu pudesse lhe dizer: muito obrigado!
É tão bonito, ah é tão bonito
Quem tem a chance de olhar a quem traiu
E ainda que seja no momento
Derradeiro reencontrar
A alegria de ser fiel até o fim
É tão bonito, ah é tão bonito
Quando recordo o seu jeito de viver
O seu sorriso, sua voz, seu ombro amigo
E o seu olhar me sustentando
Até na hora em que o trai!
Se eu tivesse acompanhado a multidão
Chorado a culpa junto ao colo de sua mãe
Se eu ficasse por ali, permanecesse com você
E assim, quem sabe
Estendendo um copo d'água pra você
Dividindo a dor da última lição
Eu pudesse refazer, meu quebrantado coração
Aos pés do seu calvário
É tão sofrido, ah é tão sofrido
Não ter a chance de olhar uma outra vez
Pedir perdão e no entrelaço de um abraço
Chorar a dor de não ter sido o seu amigo até o fim
É tão sofrido, ah é tão sofrido
Trazer na boca o gosto da condenação
Nó na garganta e o desejo inconfessado...
Que se eu pudesse voltar no tempo
Lhe encontraria e subiria com você
Que se eu pudesse fazer de novo
Mudar a história eu morreria com você.