Portas de Jerusalém
Portas de Jerusalém
A cidade de Jerusalém, devido a sua localização topográfica, já nasceu como uma fortaleza natural. Fortificada ainda mais pelos homens, com grandes muros, sempre contou com portas ao longo desses muros, portas essas que levavam a diferentes locais. Com as sucessivas destruições e reconstruções de que a Cidade Santa foi objeto (devido às diversas guerras e catástrofes ocorridas na região), e à própria expansão da cidade, foram construídas algumas novas portas, vindo outras dentre as antigas a mudarem de lugar, e algumas deixaram de existir.
Escrevi esta série de poemas intitulando-os com os nomes de algumas dessas portas, que vieram a existir em momentos diversos da história da cidade.
Todos eles, de uma forma ou outra, referem-se Àquele que é a única Porta; o Caminho, a Verdade e a Vida.
Sammis Reachers C. Silva
Porta dos Cem
Um ancião sustém
o desabar de meio pórtico:
Outra metade feriu-se
no espargir dos tempos.
E ambos e todos
( o desabado, o sustentado
e o ancião que ora )
aguardam a volta do REI.
Porta das Ovelhas
Traga-os, Elias,
traga aquelas ovelhas que
desp(ed)em-se pela ravina
e apenhoram-se ao que é Fel:
Congregue todo o perdido
em Jerusalém,
toda alma sedenta
abrace Aquele que é o
INÍCIO.
Porta da Água
O céu e agora messiânico céu
desbarata os abismos
no entorno à urbe,
e prepara o remanescente incendiado
para o que galardoa
com as Águas da Vida:
Após esse mesmo céu aguardam
os arrebatados.
É de sorriso o Dia.
É-lhes um sorrir
a Eternidade inteira.
Porta do Cavalo
Eu sonhei com uma Porta
por onde, em eu passando,
Ela segurava (em suas malhas de amor)
todos os meus erros, cada
encarniçado pecado.
Eu sonhei uma Porta
- e ela agora é –
que me cortasse as correntes
a todas as âncoras.
Porta do Vale
Além (na noite) da porta
avançam, em armaduras postos, chacais
a serviço da Grande Prostituta.
Tenho uma flauta e uma espada;
o Senhor manda que eu use a flauta,
me apegue à flauta e apele
à flauta e ao amor contra tudo:
Nossa guerra
não é contra carne ou sangue.
Ouçam, chacais amados,
chacais vós os últimos,
o som de águas vivas.
Porta Oriental
Espalhadas são as ovelhas
Um, num cubículo, eleva um clamor
Dois correm por uma outra porta
Um, que é Simão,
Carrega por um período o madeiro,
Por Aquele
Que suportará todas as maldições
E ressuscitará
Esmagando a morte e o inferno.
E esmagados em verdade estão.
Porta da Esquina
Ser uma parte da porta e
saber que uma parte da porta
vai sempre além de mim:
O Corpo de Cristo
vive
para conduzir até a Vida
aqueles que ainda perecem.
Aos moribundos dá-se o anúncio
de Paz e verdejantes pastagens,
e a eterna companhia do AMIGO.
Porta da Fonte
Na porta junto ao poço
há um menino que olha
o fundo seco e clama,
clama ao Deus de seus pais
por água para seu bezerro
e depois para si
Olha em profundo pela porta e pre-
para um pranto que
(des)escoará por todas as (t)er(r)as
um menino que herda e antecipa
o alforje, as cicatrizes e o manto
de todos os poetas
Por estes também veio o REDENTOR
para apregoar que um dia não haverão
mais lágrimas
e nossa pequenina missão, ó poetas,
estará cumprida.
Porta do Peixe
Nela havia uma inscrição que dizia
“ENTRAI AQUELE QUE PUDER”, e foi apagada,
pelo suor e pelo pranto
dos que se lhe aproximavam.
E sobre ela muito depois foi escrito
“ENTRAI AQUELE QUE FOI CONVIDADO”. E
nações de órfãos ansiaram entrar e morreram,
à porta e à míngua. Mas então algo
passou por aqui, e de alguma forma
lançou sangue sobre o escrito,
e o sangue o apagou.
Agora e desde aquele dia até hoje,
está escrito, como que por sangue:
“ENTRE TODO AQUELE QUE QUISER.”
(estes poemas podem ser divulgados livremente, desde que seja citado o autor)