O filho pródigo
O filho pródigo
Helomar Gama
Meu pai era um caboclo extrativista
Da floresta tirava o sustento da família
Perseverante e otimista,
Trabalhando com dificuldade
Conseguiu me mandar para a universidade.
Com o dinheiro suado do meu pai
Fui para São Paulo
Fazer minha faculdade
Me formei num médico famoso e respeitado
Naquela grande cidade.
Com muita fama e dinheiro
Passei a ser mesquinho e esnobe
Esqueci minha família
E a infância pobre.
Com a fúria de um leão
Me entreguei a perdição.
Em poucos anos
Meu império babilônico
Começou a ruir,
E o que era mais irônico
O que fora fácil de entrar,
Agora era difícil de sair
Preso aquela ilusão
Passei a comer sobras, a beber
E a dormir no chão.
Um dia movido pela depressão
Sem encontrar uma saída
Resolvi tirar a própria vida
E acabar com aquela aflição
Mais por um instante, resolvi não sofrer mais
Decidi pedir guarida
E voltar para casa dos meus pais.
No mesmo instante marchei para o terminal
De tanta fome que sentia
Comecei a passar mal
Apanhei o barco em Belém
Ao se aproximar da minha terra
Senti aquela nostalgia.
Da varanda de sua casa
Meu pai me viu distante.
Reconheceu o filho
mesmo muito fraco, maltrapilho e cambaleante
E correndo me acolheu
Nos seus braços fortes.
Chorando pedi perdão
E disse-lhe que
Só queria sua benção
Não queria distinção, e se me aceitasse
Na fazenda seria apenas um peão.
E meu pai com amor e generosidade
Ordenou a criadagem
Que não havendo ocasião mais feliz como esta
Mandou matar um novilho gordo
E fez uma grande festa
Repleta de muita alegria
Pois o filho outrora morto
Agora vivia.
E disse-me com toda autoridade
Que eu seria o médico de toda a nossa comunidade.