PROCURANDO DEUS

Um dia minha alma importunou-me e o sono se esvaiu

Olhei para o espelho e eis que uma triste lacuna, contemplaram os olhos meus

Protestando em nome da paz e clamando por vida, meu ser se exprimiu

Eu pensava buscar por minha imagem, mas em verdade procurava Deus!

Suspeitei que O olharia na suposta simpleza de uma homilía

Ou quem sabe na sistemática de um discurso metafísico

Eu O imaginei habitante de cada basílica que em Seu nome se erigia

Ou então estampado nas virtudes manifestas de algum corpo físico!

Me propus ao reajuntamento de Suas multifacetadas manifestações

Quem sabe descobrí-lO a esconder-se no ópio do ceticismo

Mas nenhuma célula Sua cabe na plenitude de todas as religiões

Sua essência profunda transcende dogmas de qualquer catecismo!

Quase desfalecido pela agrura de meu descontentamento

Vi um brilho inaudito a fugir de um sorriso excluído e sem dentes

Na mais absoluta miséria, uma ponte de ouro, adentrava o firmamento

Vi pedaços de Deus refletidos na feição das mais anônimas gentes!

Deus sem trono e Deus sem cetro, sem as dízimas da hipocrisia

Não estava visível nas almas que usurparam Sua embaixada

Na cômoda e reacionária tradição, eu não O via

Deus só pode ser visto por quem avista em si mesmo, um nada!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 19/03/2008
Reeditado em 30/01/2012
Código do texto: T907964
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