REVELAÇÃO
Era só um gesto — um leve abrir de dedos,
um toque breve no pão repartido,
no vinho erguido, no ombro caído...
Era só um gesto, mas era o segredo.
O tempo parou. Não havia pressa —
só o instante, só o assombro
de ver na palma o mundo todo:
o primeiro grão, a glória no pão, a última mesa.
Não havia nome para aquela luz
que do comum se levantava,
que no simples se guardava
e, de repente, ardia sem chama.
Era só um gesto... Mas naquele jeito
de amparar o tempo desfeito,
de dar-se em silêncio perfeito, de se revelar,
e Ele se fez palavra no peito —
e em nós, seu reflexo, seu feito.