Já fui, ainda estou
Eu já fui tantas,
das tantas,
que eu já quis ser.
E dessas tantas,
ainda sou tantas,
das tantas,
da que já fui.
E, de novo, quando me for,
sei que voltarei,
das tantas que fui,
e outras tantas serei.
Fui riso, fui pranto,
fui sombra, fui luz,
já amei, já temi,
já fui laço e cruz.
Fui moça sorridente,
fui voz sufocada,
fui chama ardente,
fui cinza apagada.
Das tantas que fui,
ainda sou tantas,
fui a dor de outrora,
e hoje ela canta.
E dessas tantas,
serei tantas mais,
pois a vida me leva,
mas sempre me traz.
Já fui filha e mãe,
fui sábia, fui erro,
já fui medo e abrigo,
já fui porto e desterro.
Fui terra, fui rio,
fui vento sem cais,
fui noite, fui estrela,
e serei muito mais.
Pois das tantas que fui,
ainda sou tantas,
nas voltas do tempo,
nas almas errantes.
E quando me for,
eu sei que verei,
na imensidão do mundo,
as tantas que amei.
E volto, e respiro,
e sigo a missão
pois sempre há um recomeço
no ciclo da imensidão.
No ventre do tempo,
me encontrarei outra vez,
nas tantas que fui,
e nas que serei.
Das sombras que tive,
a luz me conduz,
sou sopro de vida,
reencarno em um corpo,
num sopro de luz.
No olhar que me acolhe,
o amor me refaz,
sou riso, sou choro,
sou grito e sou paz.
Das tantas que fui,
trago rastros e marcas,
memórias que voltam,
segredos sem palavras.
Nos passos que sigo,
me deixo cair,
mas sei que na queda,
também posso ir.
Na dança do tempo,
me entrego e me dou,
Tudo o que aprendi,
Faz parte,
das minhas partes,
Já fui,
ainda estou.