Transição do belo

Intentou com dor, o espinho, à flor, que outrora, bela, clara.

Até as pedras se amam, num orgasmo de rigidez.

Morrem num reboliço de moendas tão algozes.

A areia é um fim de pedra, uma secura de garganta e tumba.

Às vezes brincam nos ventos, tantos.

Depois daquela esquina, o menino feliz, nunca mais.

Tão bela canção de amor, flores no jardim, os corvos estão à espreita.

A noite e o dia são irmãos.

Esqueci de sair desta tela, mergulhei nas tintas tontas, nos tons da vida, na embriaguez e moldura de quinta.

Vi uma flor perder a beleza, o gosto da vida, a seiva do encanto.

Um antro, um resto, um canto frio, agudo canto de morte.

E olhos novos que vem e vão, como procissão de cidade miúda e coreto.

Vestiu de velharia e corcunda, a beleza, ao cair a tarde de sol cansado.

Como sóis e dias, sou um ar da tarde e cigarras, avistando ao longe uns montes que me esperam.

Transição do belo

João Francisco da Cruz

20/02/2025