Cegueira
Além desta muralha de ego, o que me impede de ver?
O chão de pedras que piso, a dor do tempo que leva, a lição que amadurece?
O riso curto que causa a falta, o suor que me mantém, o espinho de ponta e caminho?
O pão que não desejava, o dia que não clareou, o murmúrio das almas tolas?
Há um tempo nesta sala, lições e provas de amor, persistência no fracasso.
Nem todo caminho é o fim de uma prova, há bifurcações no trajeto.
Vou deixar de engatinhar, mover os ossos do cômodo, levantar desta cadeira.
Destes olhos tão mesquinhos, contemplar a luz do sol.
Ouvir a voz do universo, sobre águas e cascatas.
O riso do cão feliz, o vôo do passaredo, o broto do ramo velho.
Adentrar nos átrios belos, dos planetas, dimensões, encontrar Deus no sublime.
Ver a graça na feiura, na noite que dorme, escura, no dia sem paz, de aflição.
Ser mais deus nos gestos simples, menos mal no coração.
Andar pelos vales, vãos e céus, comer à mesa do fraco.
Alinhar me à raça dos aprendizes, plantar e merecer do fruto.
Comer da terra de mel, mastigar o fel que plantei.
Não culpar o vil demônio, nem o solo infértil de mim.
No fim da estrada e enfado, receber o galardão.
Inda que na derradeira, caia as vendas destes olhos, veja eu, belos florais.
Um campo de aprendizado, um céu simples como um sorriso.
Casas, castelos, casebres, uma estrada , um riacho, um mundo de sol e vida.
Roupa velhas, sem lembranças, quarto escuro que passou.
Uma lição aprendida, um estágio bem formado, mais um grau de evolução.
Além desta muralha de ego...
João Francisco da Cruz