Colheita
Do móvel que sou, da matéria que desgasta, pinto em vão, uma beleza e fração.
O sol ainda não se pôs, e morro lento, sorrindo em fantasias e moedas.
Do bem que tenho, mais durável é esta essência.
Na cova que planto flores, colherei aromas bons.
No sulco profundo de mim, a erva amarga que cultivo, será meu banquete amanhã.
Passa como águas de ribeiro, a água doce e o pão, no mesmo vale, a enxurrada que leva à morte.
Matéria, um tempo de prisão, ensinos de dor.
Todavia, extinguirá num tempo breve, a cor manchada e bem fétida.
E entre colheitas boas, ou espinhos que feriram, terei a paga do fruto.
Voará por entre céus, a essência doce de um bálsamo, ou um amargo de fel.
Alma, que passeia sobre os mundos, ou nos abismos de aprendizado.
Das terras, covas, sulcos e plantio, vou colher além daqui.
Do móvel que sou...
João Francisco da Cruz
27/12/2024