Mudança
Onde jorrava amor plantaram uma muda de mágoa
Ela cresceu
Tornou-se uma árvore
Criou-se uma sombra
Coloquei uma rede e me deitei para descansar
O tempo passou
Manchei as doces lembranças
Eu as enchi de sal
Já não via as pessoas como elas eram
Só via o que eu imaginava
Completamente envolvida pela rede da indiferença.
Mas ali ainda jorrava amor
E eu não queria me banhar
Muitas vezes o vento da discórdia batia forte
Também trazia consigo os respingos do amor
Era inevitável!
Quando caminhava pela beira daquele rio de águas tão cristalinas eu recuperava um pouco da lucidez.
Lembrava o quanto essa família já foi feliz.
Bastava atravessar o rio
Do outro lado morava o perdão
Mas o gigantesco medo me travava as pernas
Voltava e me deitava na rede sob a sombra da maldade
Quanta dor escondida no íntimo da alma
Dor nua e invisível
Vez em quando alguém balançava a árvore com palavras duras
Eu reagia
Sempre achei que era preciso alimentar a ovelha e o lobo
Mas o lobo estava se tornando forte demais
As águas bem a minha frente
A minha sede de vida
Ali estava a cura da minha dor
A força para não desistir
Do outro lado a minha casa
Era o momento de reflexão....
E o único meio de salvação era não me afastar do meu coração
Aguardei a noite inquieta e com uma sensação indizível
Sem saber qual era a minha culpa
Fiquei perturbada
Pensei em perdão como uma leve palha de um tempo distante
Adormeci meio que dormente.
Amanheceu...
Voltei a beira do rio e comtemplei as aguas cristalinas
A frente passava um barco com um senhor remando
O seu semblante era doce e feliz
Havia algo nele que mexeu comigo
Algo de sobrenatural acontecia
Estendi meus braços
Ele me abraçou com tamanha ternura que me vi envolvida em um lugar de paz
Era como se eu acordasse de um sonho ruim
Chorei como uma criança
Atravessamos o rio
Ele tocou minha mão e falou com carinho
_ Não se culpe, perdoe-se.
Ele continuou o seu caminho sempre acenando para mim
Fiquei do outro lado da margem
Parada de frente para minha casa
Estava pronta para aquecer o meu coração cheio de esperança
Era tempo de reconstruir
Bastava caminhar com o perdão e pisar a grama da reconciliação
Abrir a porta, entrar e ser livre
Mas como se presa por um ímã eu fiquei ali parada.
Pensei... Só Deus pode me ajudar...
O gigantesco medo não quer me abandonar.
Uma intuição forte tomou conta de mim e soprou em meus ouvidos...
_O verdadeiro perdão só se dá por merecimento, não espere um bem para retribuir o bem
Eu nem percebia que caminhava
Encontrei-me de frente a porta
Num impulso estendi as mãos trêmulas e a abri.
Olá, sou uma alma irritável e as vezes firo
há tão poucas coisas que eu não me lembre
Confesso que estava entregue, uma entrega intima e total
A mágoa ia se dissolvendo como fumaça
Quanto desperdício na prudência egoísta de darmos amor
Sem perdão não há como aprender e continuar
Eu estava do lado de de dentro.
Sorri e dei graças a Deus!