O REINO DE BABEL

O REINO DE BABEL

I

Os filhos de Babel edificaram a era

das incertezas e sufocaram a sensatez

das luzes que queriam alumiar o planeta.

A Terra agora e um planeta escuro...

Os homens morrem transpassados

pelas setas do próprio egoísmo

e da insensatez dominante.

As portas estão fechadas. Os muros se levantam...

A Sabedoria e a Verdade não podem entrar.

O Espírito não pode entrar, não pode falar aos homens.

A Equidade caminha solitária nos desertos...

A Iniquidade, pomposamente,

reina no grande Reino da Ostentação e do Engano.

O racionalismo cético também medra

nos trilhos sinuosos dessa Babilônia.

Bestas bizarras comandam o espetáculo e aplausos

se ouvem nas torres das águas urbanas e nos rios das águas

camponesas. O engano reina. Uniformemente reina.

Disse o profeta...

E gargalham sátiros nos coitos de um diabólico congresso.

E emanam enxofre nos conluios fétidos da corrupção

entre as criaturas das sombras... As gravatas se lambuzam da saliva

ácida dos bodes nas câmaras da mentira e da sanha entorpecida.

Fístulas se formam no interior das cúpulas, mas a dor é

derramada no seio dos povos. No interior das sociedades morrem

os peixes envenenados pelas bebidas mortíferas ofertadas

por deuses caídos, travestidos de ovelhas ornadas

do melhor tecido. São os líderes nos pastos da tarde.

Dominam sobre grandes manadas com os seus uivos.

É muitíssimo grande o sacrifício, ó Yah!

É muitíssimo grande o sacrifício nos outeiros

e nas cavernas.

Disse o profeta...

II

Os clamores de muitas Primaveras ressoam

ao redor dos reinos onde a vida foi um trapo

jogado no esgoto; onde as flautas não encantam

mais as serpentes; onde a música das armas

é um hino escrito com sangue.

As lágrimas não apagam todo incêndio e os gritos

explodem em granadas e canhões.

As águas do Nilo mesclaram-se no sangue e as portas

de Damasco choram seus mortos. Que o Senhor nos salve!

...Pois a morte cavalga soberana nos desertos de Alah.

Quando cessarão as dores?

Quando se renovarão os jardins?

Quando cairão os impérios?

Quando o arcanjo descerá e se calarão as armas?

E a Senhora de Reinos, beberá do cálice? Beberá sim.

Beberá do cálice...

Disse o profeta...

III

Assim fizeram os filhos de Babel.

Assim quiseram os soberanos do poder e do ouro.

E muitos e muitos os seguiram nos tortuosos trilhos

da morte.

E cultuaram mais a criatura do que o Criador

e não enxergaram o Criador na criatura

e não entenderam a criatura no Criador.

As veredas antigas de Elohay tornaram-se num

caminho estreito e solitário num ermo. Um Caminho santo...

Poucos passarão por ele. É para os caminhantes...

“Até os loucos não errarão”.

Disse o profeta...

IV

Os homens cingiram-se de insensibilidade e mataram

os próprios corações; amaram mais as injustiças das trevas

do que todo bem e toda justiça que provêm da Luz.

E conceberam cidades e sepultaram as estrelas e derribaram as leis

e apagaram as luzes que vieram dos céus

e mortificaram seus espíritos e idolatraram suas carnes

e deusificaram o ouro e a prata e também os filhos do Carbono

e foram terrenos férteis à germinação de tiranias

e derramaram sangue, muito sangue nos rios das terras

e das nações

e derramaram as vísceras da Terra em seus mais tétricos

espetáculos de dominação torpe e diabólica. Filhos de terríveis trevas!

Bizarros que assumiram os tronos de Babel

e camuflaram-se em corpos humanos.

(Uma subversão de estranhos. De estranhos... ).

O Mal prevaleceu ao Bem e a Discórdia prevaleceu à Paz

E os Anjos choraram as dores e os prantos de todo trigo do Pai Eterno.

...E em refrão clamavam: “Sai dela povo meu!... Sai dela povo meu!”

Disse o profeta...

V

Eis aí, ó Babel, o teu reino! O tão vasto reino!

Delicia no teu Baco e folga de prazeres com teus filhos diletos!

Eis aí o teu domínio, o teu vasto domínio!

Edifica teus templos! Constrói tuas cidades! ...E devora os homens.

Agarra-te

aos tesouros que acumulastes nestes séculos e dança

endoidecida no frenesi da tua loucura.

...E assenta-te no trono que usurpaste e bebe na tua taça

o vinho da ira no cálice que eu te oferto.

... E embriaga-te também no sangue de teus massacrados!

E cai, por fim, vencida!

Porque não serás mais a Senhora de Reinos num planeta

entregue às sombras que tu trouxeste do teu horrendo Olimpo.

E cairás, e entenebrecida e abatida, arrastada serás com teus

príncipes ao mais profundo dos abismos,

na escuridão eterna

do Hades

de onde um dia

tu saístes.

Assim também disse o profeta...

Sidnei Garcia Vilches (27/01/1995)

Sidnei Garcia Vilches
Enviado por Sidnei Garcia Vilches em 21/06/2024
Código do texto: T8090585
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