Nova Canção, de um Novo Tempo

As pernas que vejo são apressadas

De seres que parecem não ter cabeça,

Cada um em ligeiras passadas

Com destino traçado nesta terça.

E de suas bocas as palavras escapam desmedidas,

Calando-se depois para permear o pensamento.

São insignificantes as suas despedidas,

Enquanto eu acolho no íntimo o firmamento.

E vivo aqui entre um cirro e outro a me perder.

Em um olhar vago, mas ainda atento:

Procuro aquele que veio me esclarecer

O que há de errado neste triste tempo!

Lá vem no céu tão azul-claro,

Montado numa rajada de vento

O mensageiro da paz apressado,

Trazendo paz pra este triste tempo.

Tão bom vê-lo aqui de novo,

Já que nem a ti dão atenção.

Todo mundo aqui me chama de sonhador.

Nem mais escuto, meu voador.

Trazes-me aquela mesma canção?

Uma nova! Mostre-me então

Como? Não posso escutá-la agora?

Falta-me ainda sensibilidade no coração?

Terei que silenciar o corpo primeiro

Para cavar a sublime nota d’aurora?

Diz-me para não ter pressa:

Sabe que tenho, é perspicaz.

O alegre tempo parece que regressa

Mas o triste aqui demora demais.

É que me corroem os olhos a atmosfera

Dos seres ignóbeis deste triste tempo.

O mundo deles já não é o meu também.

Pensam achar sentido e não sabem o que é espera

Esperaram demais, enquanto estou ciente e atento.

Olha pra mim, vê não com os olhos deles,

Mas vê como o que és por destino!

Atenta como minha prisão é grosseira,

Como um vaga-lume em desatino.

Traz-me a doce canção, caro amigo.

Aquela em que poderei a alma embalar,

Que de tão sublime melodia parece azul.

Deixarei o oceano dos meus sentidos embalsamar,

Dentro do meu invólucro, até não mais poder cantar!

Deixa ser o entoado da canção!

Usar meu corpo como instrumento

E cantá-la com o coração

Em qualquer triste movimento.

Porque a cada movimento eu sinto.

Aqui, parece que piso em falso,

Nesta melodia mortal do limbo!

A nota que transporta a alma

Necessita que se afine o instrumento.

Afinarei-me, pois,

Mesmo em grosseira existência.

E seremos nós dois

Mensageiros do novo tempo!

Paciência.

Estando eu sozinho, vou devagar.

Sabe que os olhos do teu amigo

Não são como os seus especiais.

Que enxergam até o mais longe caminho.

E vêem além de até onde não vejo mais

Empresta-me um pouco, e, quiçá

Os pensamentos vão entender.

As veredas se unirão

Em um único caminho a florescer.

Os olhares se olharão

E não mais embaçados vão entender.

Que o que canta a canção

É do que a alma necessita para viver.