Ladainha do Senhor do Calvário
Ó Bom Jesus do Calvário
Que tem a cruz de oliveira
Pela rua, solitário
Sobre os espinhos da roseira.
O vosso santo cabelo
Mais fino que o fio de oiro
Que tristeza tive ao vê-lo
Baço e sujo esse thesoiro.
A vossa santa cabeça
Coroada de mil espinhos
Não me afaste nem impeça
De seguir vossos caminhos.
Esses vossos Santos olhos
Inclinados para o chão
Deles caem dor aos molhos
Nos caminhos da Paixão.
Essas vossas santas Faces
Cheias de cuspo nojento ...
Ó Senhor porque não fazes
Que se acabe este tormento?!
Nessa vossa santa boca
Puseram fel amargoso
Pobre gente, fria, louca
Pobre filho doloroso.
À vossa Santa garganta
Enlearam uma corda
Vossa mágoa era tanta
Senhor Deus misericórdia.
Esses vossos Santos ombros
Encostados a um madeiro
Pobre Cristo entre escombros
De que fosteis Vós herdeiro.
Esses vossos Santos braços
Estendidos sobre a cruz
Pelos nossos pecados
Perdoai ó Bom Jesus.
Esse vosso santo peito
Foi aberto com uma lança
Durma eu sempre no leito
Cheio dessa confiança.
À vossa Santa Cintura
Cingiram uma toalha
Essa pobre investidura
Foi vossa santa mortalha.
Esses vossos Santos pés
Mais claros que a neve pura
Arrastados nos sopés
Pela rua da Amargura.
Pela rua da amargura
Vai o Senhor a chorar
E uma santa com doçura
Logo acorreu p'ró limpar.
Ó quem fora tão ditosa
Que vira o Senhor Chorando
E numa pressa dolorosa
O abraçou, ficou limpando?!
E há um grito de mulher
Junto à cruz, lá no Calvário
Vossa Mãe, triste, a sofrer
Que abraçou vosso Sudário.
Juntarei os meus pecados
Pô-los-ei aos pés da cruz
Que eles sejam perdoados
Para sempre amém Jesus.