ÁGUAS DE OUTUBRO (via crucis)

Voltaram as chuvas...

Caem as águas do céu cinzento

e escorrem... escorrem...

arrastando lixo e lama na negritude

do asfalto esburacado

e levam também consigo destroços

da minha carcaça exterior.

 

Em solitário recolhimento

isolado

silencioso

ouço os ruídos contínuos

das grossas gotas na vidraça

e o zunir do vento

que encobrem o barulho

do meu confuso pensar.

 

A chuva forte me põe só

na companhia de minh'alma

que das profundezas emerge

e sinto a sua dor pungente

o penar do seu confinamento

e o peso da sua missão

a sua via crucis

a difícil tarefa de me carregar pela vida.

 

Zildo Gallo - Piracicaba, SP, 08 de outubro de 2001