TARÔ DE MARSELHA EM POESIA

OS ARCANOS MAIORES

 

A ESTRELA

Querer... e não ver as estrelas,

Ponto de luz nas trevas,

Cacos incertos de vida acima do asfalto,

Enigma do eterno

E da airosa esperança.

Olhar a rua que passa

E ver um mundo obscuro caminhar

Do outro lado da calçada.

 

Trancar-me na escuridão do quarto,

Devorando incertezas.

Esperar que o peito dilacerado me leve

Aos caminhos do coração.

Em luta, reluto...

 

Sonhar, não sonhar,

Viver, não viver,

Se tudo acabar,

Nada a perder.

Abrir porta e janela,

Deixar entrar a brisa

E esperar...

 

Haverá um tempo

Em que colocarei o olhar

Na linha do horizonte e não sentirei

O peito apertar-se,

Sem ansiedade e sem temor...

 

Haverá um tempo do dever cumprido,

Do contemplar o edifício acabado,

A casa do espírito em paz,

Serena Paz,

O coração tranquilo.

 

Haverá um tempo para contemplar

As águas mansas do regato

Que, lentamente, lentamente...

Caminham para seu destino maior,

Rumo ao distante oceano,

Carregando as más águas

Dos meus cântaros esvaziados.

 

Haverá um tempo

Em que olharei para trás

E sentirei,

Aproximando-me do imenso oceano,

A certeza de ter feito o melhor

No sinuoso e acidentado caminhar.