TARÔ DE MARSELHA EM POESIA
ARCANOS MAIORES
A RODA DA FORTUNA
É um vir a ser intangível,
É o instante seguinte a me esperar,
É o rodar da roca das Moiras
Que, seguindo o girar do tempo,
O rodopiar azul da Terra,
Vão fiando a linha a minha vida.
São os movimentos de Gaia,
Minha mãe,
Gerando a vida
Em ciclos de nascimento e morte,
De morte e vida,
De partidas e retornos.
São processos invisíveis,
Inacessíveis,
À minha risível e humana condição,
Envolta em névoas,
Que limitam e delimitam
A visão do caminho à frente.
São movimentos imperceptíveis
Que me lançam na supremacia
Da surpresa permanente do viver,
Do eterno vir a ser.
Feito a roca das remotas moiras,
O mundo gira, fiando a trama
Do meu destino incerto,
Mas com começo, meio e fim.
Sigo reto por tortuosas linhas
E a roca roda muito e mais veloz,
Produzindo hipnóticas vertigens
E projetando sombras disformes.
As moiras sempre fiam e eu me fio
Em esperanças sempre recorrentes
De que elas me poupem algum dia,
Da minha (ir)real e humana condição.