TARÔ DE MARSELHA EM POESIA

OS ARCANOS MAIORES

 

A IMPERATRIZ

Senhora do mundo material,

Senhora da prosperidade,

Da abundância

E do alimento.

Senhora de tudo que nasce e cresce.

Só a Senhora,

No seu recolhimento alquímico,

Constrói a vida,

Partindo da minúscula semente,

E, ao término da sua tarefa,

Lança-a à luz do sol,

Como um arqueiro que atira flechas

No vazio do espaço,

Esperando que ele seja preenchido.

 

Grande Mãe,

A Grande Mãe

Dos nossos remotos ancestrais,

Que souberam reconhecê-la

Em cada ser vivente

Neste solo por onde caminhamos,

Este solo que é seu colo

Que nos acolhe hoje,

Sem que disso demos conta,

Como filhos ingratos que nos tornamos.

 

Como mãe dos deuses e de todos os seres,

O seu desejo mais profundo

E verdadeiro

É que todos tenham em abundância

Tudo aquilo que é de verdade necessário,

O verdadeiramente necessário

À Caminhada de cada um

Neste planeta que leva seu nome:

Terra, Gaia, Gayatri...

 

Como toda mãe,

A Senhora sofre ante ao sofrimento

E ante aos tropeços enganosos de cada filho seu,

Mas sabe que eles foram atirados

Como flechas ao mundo,

Ao livre arbítrio,

Para que façam o seu próprio caminho

Ao caminhar.

Muitas delas pousam em terrenos hostis

E acabam por se perder

E seu desejo é que elas encontrem

Um bom caminho

Ao caminhar.

 

Seus filhos já não lhe reconhecem

E ferem o seu colo

Acolhedor

E, não satisfeitos,

Escavam as feridas que sangram

Como lágrimas escorrendo,

Mas nem mesmo assim os abandona,

Pois, no seu derradeiro momento,

Acolhe cada um,

Em seu substrato material,

No seu generoso colo,

No seu útero cósmico.