Ensaio
Nas asas do amor a alma anseia por voar “para casa”, para o mundo das ideias. Ela quer ser libertada da “prisão do corpo”... Platão
Eu sou um Espírito imortal
Ora vivendo um personagem
Encenação de breve imagem
Em um teatro natural.
A minha voz a ele empresto
A minha vida a que ele esteja
A minha visão a que ele veja
A sua existência assino atesto.
E essa incrível dualidade
Às vezes causa confusão
Sou eu divino e o homem não
O para sempre e a brevidade.
Sem precisar dicotomia
Há ilusão talvez loucura
Pensar que sou a criatura
Que a não ser tem o seu dia.
Porque viver é consumir
Da existência à personagem
E deluzir a humana imagem
Tirar do censo... de existir...
Não adianta conjurar
Tampouco neura contrair
Por não querer admitir
Quem chegou há de voltar...
Sem mais a ânsia de um bebé
Tecido em carne desaguado
Tem o coveiro confirmado
— "os ossos são de quem não é".
Não viva os atos de ufania
Antagonista que humilha
Ou egoísta a fazer ilha
De água do mar que não sacia.
Amar é jeito a caso sério
De conviver com o contrário
Porque mais um aniversário
Mais aproxima ao cemitério.
Se entanto caiba enfim à morte
Impor ao homem o fim de um ato
(Ao mesmo tempo o do contrato)
É dar ao Eu meu passaporte.