Universal
Não sei se foi uma simples visita
Mas vou fingir e pensar que sim
Eles chegaram com falas bonitas
E inocente abri o coração sem fim
Depois, eles correram comigo
Da minha própria terra
Abraçado pela constância dos perigos
Conheci a mordaça da guerra
Derramei lágrimas para entreter os senhorios
Dentro dos porões dos navios medievais
Fui levado nos braços dos oceanos e rios
Para um Éden sem amor e sem paz
Aprisionaram-me os hábitos e costumes
Enterraram o negro que eu era
Mas a minha cor tinha o perfume
Que dava rosto ideal a minha era
Então cantei nas plantações de algodão
Então cantei nas roças dos céus azuis
Então cantei nas estradas de alcatrão
E este canto a vida chamou-o de Blues…
Nas sanzalas
As noites não eram só de descanso
Mesmo sob repugnâncias e chicotes
Eram também de sorrisos e abraços
Por ser negro, resistente e forte
E toda vez que me batiam às costas
Me tornavam somente numa semente…
Sim, semente com perguntas e respostas
E assim fui
Germinando
Desabrochando
Como semente
Florindo com o temor da possibilidade possível
E me adaptei às novas experiências…
Fui uma semente africanamente incrível
Fui uma semente com raízes e valências
No Brasil fui Zumbi dos Palmares
Dandara
Machado de Assis
Tia Ciata
Grande Otelo
Em Portugal fui Eusébio
A pantera negra
Na América fui Martin Luther King jr
E assim habitei a terra na sua plenitude
E assim me fiz universal…
Aos medrosos o meu desprezo
Aos estúpidos a minha ausência
Aos bajuladores a minha negação
Aos políticos a minha indiferença
Aos corajosos a minha gratidão
Aos poetas todo o meu apoio total
Aos nossos a palavra de união
Ao povo o meu amor incondicional
O mundo precisou da África para sobreviver!
O mundo precisa da África para sobreviver!